
Por Ingreson Derze
Meses depois de conceder um voto de aplausos ao influenciador e empresário Hytalo Santos — hoje investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB) por suposto aliciamento e exploração de menores —, a Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB) passou a ocupar a tribuna para denunciar a “adultização” de crianças e adolescentes e prometer ações contra redes de exploração sexual na internet.
Hytalo, que recebeu a honraria em setembro de 2024 por indicação do deputado estadual Júnior Araújo (PSB), foi citado na denúncia feita pelo influenciador Felca (Felipe Bressanim Pereira, 27 anos). No vídeo, que já soma mais de 30 milhões de visualizações, Felca apresenta casos de menores expostos de forma sexualizada nas redes sociais e alerta para o risco de esse conteúdo ser consumido e compartilhado por pedófilos.
A homenagem a Hytalo foi aprovada por aclamação, ou seja, sem votos contrários. Na justificativa, Araújo descreveu o influenciador como “inspiração para os jovens” e destacou suas “ações sociais” e “talento reconhecido nacionalmente”. Hoje, diante das investigações, o parlamentar afirma que o gesto “não é um endosso irrestrito” à conduta do homenageado e lembra que o requerimento foi apresentado antes das acusações — embora o conteúdo polêmico já estivesse no ar à época.
Na sessão desta terça-feira (12), deputados como Sargento Neto (PL), Chica Motta (Republicanos), Cida Ramos (PT) e Félix Araújo (PSB) repercutiram a denúncia, cobrando fiscalização das redes sociais e propondo novas leis para combater a sexualização precoce. Sargento Neto anunciou o projeto “Lei Felca”, que inclui mecanismos no Estatuto da Criança e do Adolescente para impedir a exposição sexual de menores, enquanto Félix Araújo quer criar um Observatório permanente contra a sexualização da infância.
Cida Ramos defendeu que a Assembleia forme uma comissão para propor políticas públicas e ampliar o debate, envolvendo Ministério Público, OAB e conselhos de proteção.
A nova postura, entretanto, não passou despercebida entre observadores da política local, que apontam o contraste entre o discurso atual e a celebração recente a um dos investigados. Como lembrou um servidor ouvido nos corredores da ALPB, “na Paraíba, aplaude-se hoje para investigar amanhã”.