Jhony Bezerra é atual Superintende da PB Saúde.

Na política, os passos mais perigosos nem sempre são os errados — mas os mal interpretados. O ex-secretário de Saúde da Paraíba, Jhony Bezerra, que despontou como uma das grandes surpresas eleitorais de 2024, precisa agora refletir com mais cuidado sobre o caminho que está trilhando. Há uma linha tênue entre se reposicionar para sobreviver politicamente… e trair quem lhe estendeu a mão quando poucos acreditavam em seu nome.

Para chegar onde chegou, Jhony contou com muitas mãos. Mãos firmes. Mãos leais. Uma dessas foi a do governador João Azevêdo, que lhe deu projeção à frente da Secretaria de Saúde no período mais desafiador da gestão estadual. Jhony foi colocado no centro da vitrine e, com o aval de João, ganhou musculatura para disputar a Prefeitura de Campina Grande com competitividade.

Mas o que começa a chamar atenção — e gerar ruído — é a forma como o agora ex-candidato vem se movimentando nos bastidores. Ao ensaiar uma saída do PSB para flertar primeiro com o Republicanos e agora com o partido que Cícero ingressar, Jhony dá sinais de que pode estar esquecendo sua origem política recente. João Azevêdo foi mais que um governador: foi o principal fiador de sua ascensão.

E não para por aí. Quando Jhony começa a se preparar para disputar um mandato de deputado federal, surge outro nome crucial na sua trajetória: o deputado federal Murilo Galdino. Foi Murilo quem coordenou sua campanha, articulou apoios, vestiu a camisa nos dois turnos em Campina Grande e colocou a estrutura do seu grupo à disposição. Mais do que apoio, Murilo deu o tom da campanha, trazendo ainda o peso político do irmão, Adriano Galdino, presidente da Assembleia Legislativa. Sem esse suporte, talvez Jhony não tivesse sequer chegado ao segundo turno.

Agora, ao virar as costas para Lucas Ribeiro e se aliar publicamente ao prefeito Cícero Lucena — passeando com ele por Campina como quem desenha novos mapas —, Jhony parece ignorar outro capítulo fundamental da sua bem-sucedida eleição. O tempo de TV e a estrutura que lhe garantiram visibilidade vieram dos partidos da mãe de Lucas, a senadora Daniella Ribeiro (PSD), e do tio, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP).

Ambos foram decisivos na construção da coligação que viabilizou sua campanha. Enquanto isso, Cícero — que agora ganha protagonismo em sua agenda — cuidava legitimamente de sua reeleição em João Pessoa, distante da disputa campinense.

Jhony precisa descer do palanque da bem-sucedida eleição e colocar os pés no chão. A votação expressiva que obteve em Campina Grande não foi exclusivamente dele — foi fruto de uma grande engenharia política, coletiva, calculada, onde muitos cederam espaços, colocaram reputações em jogo e contribuíram com generosidade.

O desafio agora é não se perder no labirinto da ambição. Porque em política, esquecer quem te levou até a porta é a forma mais rápida de encontrar a saída — pela porta dos fundos.